Tarifaço dos EUA deve encarecer o crédito e pressionar desemprego no Brasil

Resumo do artigo: O novo Tarifaço dos EUA promete redefinir os rumos da economia global, e seus efeitos já ecoam sobre países em desenvolvimento como o Brasil.

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Este texto analisa os impactos diretos e indiretos da medida, abordando o encarecimento do crédito, o risco crescente de desemprego e os caminhos possíveis para mitigar os danos.

Incluímos dados oficiais, exemplos práticos e uma tabela para ilustrar os impactos econômicos.


Quando os Estados Unidos impõem tarifas mais altas a parceiros estratégicos, o planeta todo reage — e o Brasil, como potência emergente e dependente de cadeias globais, sente o baque quase imediatamente.

O novo Tarifaço dos EUA, anunciado em 2025, já vem afetando a estrutura econômica brasileira: o crédito está mais caro, o desemprego volta a crescer em setores-chave e a desconfiança externa mina as projeções de crescimento do país.

Não é exagero afirmar que o protecionismo americano atual ameaça desorganizar a lógica de interdependência construída nas últimas décadas.

E a pergunta que se impõe é: como o Brasil vai reagir diante desse novo cenário global?

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Uma medida com ambições domésticas e consequências internacionais

O novo pacote tarifário dos Estados Unidos atinge diretamente produtos de origem chinesa, indiana, vietnamita e mexicana, com o objetivo oficial de proteger empregos locais e reindustrializar os EUA.

No entanto, as repercussões extrapolam essas fronteiras. O Brasil, por exemplo, já enfrenta distorções em sua balança comercial, encarecimento de importações e perda de competitividade internacional.

Segundo o Office of the United States Trade Representative (USTR), as tarifas afetam mais de US$ 18 bilhões em produtos asiáticos, sobretudo ligados às áreas de tecnologia, semicondutores, aço e energia renovável.

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Mas como esses dados afetam o cidadão brasileiro comum? A resposta está no fluxo do comércio global e no movimento dos capitais.

Com produtos asiáticos sendo taxados nos EUA, parte dessas mercadorias acaba buscando novos mercados — como o Brasil.

Isso gera uma enxurrada de produtos mais baratos que pressionam a indústria nacional, levando empresas brasileiras a reduzir margens de lucro ou cortar empregos.

Além disso, a confiança de investidores internacionais nos mercados emergentes diminui.

A fuga de capitais eleva o dólar, pressiona a inflação e faz com que o crédito fique mais caro para empresas e consumidores.


Impactos diretos no mercado de crédito brasileiro

É no crédito que o impacto do Tarifaço dos EUA mais se faz sentir imediatamente.

Quando o dólar dispara e os investidores se tornam mais cautelosos, o custo do capital se eleva — e isso se reflete diretamente nas taxas de juros oferecidas por bancos e instituições financeiras brasileiras.

Dados divulgados pelo Banco Central em junho de 2025 revelam que a taxa média de juros para pessoas jurídicas subiu de 19,2% ao ano em dezembro de 2024 para 22,8% no último trimestre.

Para o consumidor final, o efeito é igualmente pesado: o crédito pessoal ultrapassou a marca dos 90% ao ano em algumas instituições.

Empresas que planejavam expandir suas operações agora repensam investimentos.

Um exemplo claro vem do setor têxtil do Sul do país, onde confecções locais já relataram paralisações temporárias em linhas de produção por falta de capital de giro.

Pequenos empresários, que dependem de crédito para manter estoques e pagar fornecedores, são os primeiros a sentir o impacto — e os últimos a se recuperar.

Essa realidade cria um ciclo perverso: crédito escasso limita o crescimento, e a ausência de crescimento agrava o risco de inadimplência, tornando o crédito ainda mais inacessível.

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Tabela: Evolução do custo de crédito no Brasil (2024–2025)

Tipo de CréditoDez/2024Mar/2025Jun/2025
Crédito para empresas (%)19,221,122,8
Crédito pessoal (%)83,588,792,3
Financiamento imobiliário (%)10,211,512,4
Cartão de crédito rotativo (%)447,3472,1489,6

Fonte: Banco Central do Brasil (junho/2025)


A ameaça velada ao mercado de trabalho

Com a desaceleração dos investimentos, o reflexo mais grave aparece no mercado de trabalho.

Desde abril de 2025, o número de pedidos de seguro-desemprego vem crescendo nas regiões Sudeste e Sul, puxado especialmente pelos setores de metalurgia, automotivo e equipamentos eletrônicos.

A Anfavea, associação que representa as montadoras no Brasil, divulgou um alerta preocupante: se as condições internacionais continuarem desfavoráveis, cerca de 15 mil postos de trabalho na cadeia automotiva poderão ser eliminados até o final do ano.

Parte dessas vagas já foi congelada desde o primeiro semestre.

O impacto não se limita à indústria. O comércio varejista também sente os efeitos da retração no consumo, causado pelo crédito caro e pelo medo de endividamento.

Uma loja de eletrodomésticos em Salvador relatou queda de 22% nas vendas em comparação com o mesmo período de 2024 — com reflexos diretos no número de funcionários contratados para o segundo semestre.

Esse ambiente de incerteza torna o trabalhador brasileiro mais vulnerável. Com medo do desemprego, há redução no consumo, retração nos investimentos pessoais e até desistência de empreender.

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Brasil na encruzilhada: proteger sem isolar

Diante do novo cenário, o Brasil enfrenta um dilema complexo: como proteger sua economia sem cair em políticas isolacionistas e reativas?

A resposta pode estar em ampliar a diversificação dos parceiros comerciais e modernizar acordos existentes, como o Mercosul e o tratado com a União Europeia, que está em fase avançada.

Também é necessário reavaliar incentivos fiscais, fortalecer as cadeias de valor internas e investir em inovação tecnológica para tornar a produção nacional mais competitiva.

A criação de linhas de crédito com taxas subsidiadas, voltadas a setores estratégicos, pode ser uma medida emergencial eficaz.

No entanto, ela deve vir acompanhada de mecanismos de fiscalização e metas de manutenção de empregos.

O governo brasileiro, inclusive, anunciou em julho a liberação de R$ 20 bilhões via BNDES para micro e pequenas empresas mais impactadas pela instabilidade internacional.

A economia global funciona como um sistema interligado. Quando os EUA fecham suas portas comerciais, a pressão sobre os demais aumenta.

O Brasil, com sua estrutura econômica ainda dependente de insumos e crédito externo, precisa agir com inteligência e rapidez.


Oportunidades camufladas: um novo papel para o Brasil?

Apesar do cenário tenso, há espaço para avanços. Alguns setores estão menos expostos ao Tarifaço dos EUA, como o agronegócio, energia renovável e tecnologia da informação.

Empresas que investem em produtos com valor agregado nacional podem, inclusive, ganhar competitividade interna diante da queda nas importações.

Um exemplo interessante vem do setor de softwares de gestão, que registrou crescimento de 9,8% no primeiro semestre de 2025, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES).

Por serem negócios digitais, com menor dependência de logística e importação, essas empresas vêm contratando, exportando serviços e sustentando parte do PIB nacional.

Para esses casos, o momento pode representar não apenas uma travessia, mas uma virada de chave.


O risco de estagnação estrutural

Se não houver reação estratégica do governo, o risco de estagnação econômica estrutural é real.

A tendência é que o segundo semestre de 2025 seja marcado por baixo crescimento, inflação controlada à custa de juros altos e retração no mercado de trabalho.

O boletim Focus, divulgado em 14 de julho de 2025, já aponta para essa realidade: o PIB previsto para este ano foi revisado de 2,1% para apenas 1,4%.

O desemprego, que vinha caindo, voltou a crescer, alcançando 8,6% da população economicamente ativa.

Mais do que números, esse cenário representa vidas impactadas. Famílias que deixaram de investir na educação dos filhos, profissionais que adiam sonhos e microempreendedores que encerram atividades por não suportarem a pressão financeira.


Resta alguma dúvida sobre os efeitos do Tarifaço?

O Tarifaço dos EUA não é um fenômeno isolado — ele sinaliza uma tendência global de protecionismo que pode moldar as próximas décadas.

O Brasil, com sua matriz produtiva diversificada, tem potencial para superar esse momento.

Mas, para isso, precisa mais do que resiliência: é preciso estratégia, investimento e diálogo entre setores público e privado.

Em um mundo cada vez mais competitivo, proteger a economia nacional não significa fechar portas, e sim fortalecer pilares internos com visão de longo prazo.


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Dúvidas Frequentes

1. O que é o Tarifaço dos EUA?
É um conjunto de medidas protecionistas aplicadas pelos Estados Unidos em 2025 que aumentaram tarifas sobre produtos estrangeiros, especialmente da Ásia, para estimular a produção interna.

2. Por que o Brasil é afetado?
Embora não seja alvo direto das tarifas, o Brasil sofre com o redirecionamento de fluxos comerciais, a fuga de capitais e a perda de competitividade internacional.

3. O crédito realmente ficará mais caro?
Sim. O aumento da instabilidade global já elevou as taxas médias de juros no Brasil, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas.

4. Qual setor brasileiro é mais vulnerável?
Indústrias dependentes de importação e exportação, como a automotiva, metalúrgica e de eletrônicos, são os mais impactados no curto prazo.

5. Há algo que o governo pode fazer?
Sim. Estímulos via crédito, acordos comerciais estratégicos, incentivo à produção local e políticas de proteção ao emprego são caminhos possíveis para mitigar os danos.


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